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Primeira vez em um sertão que já vivi


Dia 19/4/19, ainda de madrugada na calada da noite, eu e um grupo de entidades partimos em direção ao Sertão baiano, pro Riacho da Onça. Nunca tinha ouvido falar deste lugar, então além de descobrir que existia esse lugar também redescobri muitas outras coisas. Uma caixa de presente que ganhei e quando abri, eu já estava lá. Foi uma viagem no tempo!




Passagens em lugares assim tem um efeito alquímico importante pra mim. Após algumas sessões de regressão que fiz nesta vida, de vários encontros fortes que tive desde pequena com pessoas vindas do interior de qualquer parte do mundo e de sonhos que sonhei com esse contexto, me pego novamente pensando sobre como esse assunto me orbita, habita.



Refleti sobre tantas coisas, me identifiquei profundamente com tudo ali. Ainda vou levar um bom tempo digerindo e aprendendo com essa experiência.


Colhi maxixe selvagem com Nina, uma catingueira daquelas que contava as suas estórias encharcadas de sabedoria. Ela falou que a cobra Cascavel é o bicho mais manso do mundo, porque ela sempre avisa que está por perto e contou também das vezes que teve que matar uma. Facão nelas numa boa.



Enquanto isso eu ficava alerta com qualquer barulho de grilo ao mesmo tempo que me sentia segura pelo tanto que esta senhora sabe sobre essa fauna e flora. Quanta força em uma mulher por volta de seus 82 anos de idade.



Apesar de não ter nascido neste contexto nesta vida, o nordeste é a origem dos dois lados da minha família. Me sinto muito próxima da minha raiz kármica quando estou lá. Uma sensação de pertencimento fica no ar.


Dei a “sorte” de ir pouco tempo depois de ter chovido bastante na região toda e a vegetação estar toda manifestada, incrível. Muitos tipos de cactos, com flores poderosas. O mandacaru por exemplo. Vi ele "fulorando" na seca na minha frente. Até provei seu fruto. Tem branco e tem rosa da família do choque. Honestamente, não tem gosto de nada e deixa uma sensaçãozinha na língua que não sei nem explicar o que era, mas não é ruim e passa rápido.



Muitas flores, especialmente as pequenas. Uma variedade celestial. Minha vontade era parar e fotografar uma por uma, mas isso levaria muito mais tempo do que tínhamos para elas desta vez.



Andei por cima daquele chão que vi nos livros de geografia e em noticiários falando sobre as mortes e estragos causados pela força da seca. Vi um bando de patos alçando vôo, o que parece bobo, mas eu nunca havia visto e amei. Poderia ter passado batido com foco somente no destino, mas o caminho até chegar no Riacho é impressionantemente bonito. Em seu ápice de vitalidade, é de tirar o fôlego.





Riacho da Onça, Queimadas - BA. Um pedacinho de terra no meio do sertão baiano, com aproximadamente 10,439 habitantes, que transborda magia em tudo, especialmente em seu povo que mostra como ser simples é chique e sábio.




Olha a Nina de novo ensinando tanto sem nem perceber. Esta saia linda, que ela mesma fez com guarda-chuvas quebrados (em um lugar que mal chove), me deixou com o queixo caído e me encheu de felicidade.

Passei a ver tudo com outros olhos. Eu, que moro na Irlanda, um país que chove e venta muito quase o ano inteiro, e encontro sempre muitos guarda-chuvas quebrados pelo chão, nunca havia pensado na possibilidade de reaproveitar aquele tecido ou até mesmo a estrutura de metal para mais nada. Me condicionei a pensar que era lixo e passei sempre direto.



Quando ela me disse isso, sem pretensão nenhuma de me ensinar nada, ela simplesmente me deu um baita curso de artesanato, de sustentabilidade, de criatividade, de pensar fora da caixa, enfim, minha cabeça quase explodiu de ideias pensando em tudo que vejo jogado pelas ruas e que tem potencial de ser muito mais. Nada acaba de fato, as funções e usos que tem ciclos de início, meio e fim. Servia como proteção da chuva e agora serve como roupa, depois como bolsa ou o que mais quisermos enxergar. Assim como qualquer lixo. Engraçado como precisei ir tão longe pra ter essa sacada.


Reparei em como o ser humano é adaptável. A catingueira me contou que lá todo mundo casa com todo mundo. Se não tá bom mais, troca.

Casa-se com o ex da irmã, entre primos claro, um clássico, com sua futura ex vizinha, isso tudo sem atrito. Depois volta e repete alguns se for o caso. Só vibrando no amor. Um lugar de muito conhecimento guardado.


Enquanto ela contava eu ia me imaginando casando com esses personagens na minha vida. Hilário. Tão absurdo pra mentalidade de onde eu e talvez você viemos. Aqui na cidade grande é inaceitável e gera muito medo só de pensar na hipótese de ter que continuar convivendo com o seu ex porque agora ele é o atual da sua irmã. Estamos mudando isso com a chegada da Era de Aquário. Que lindo será, quando o amor fraternal invadir todos esses lugares medonhos com liberdade e aceitação. Vai rolar, já está rolando.


Essa e muitas outras visões radicalmente diferentes que não consigo nem listar estão tão embutidas em qualquer fala do povo de lá. Muitas lições por segundo e eu ainda fiquei alguns dias pensativa sobre tudo que vira ali.


Com boa flexibilidade, só nos resta sermos manipuláveis inevitavelmente. A força divina universal que todos carregamos dentro de nós, acreditando ou não, está sempre sugerindo a sobrevivência e expansão e naturalmente entramos no esquema da vez pra sobreviver física, mental e emocionalmente.


Que se danem essas leis humanas tão repressoras e sem sentido. Somos natureza, somos eletromagnéticos. Atraindo e repelindo o tempo todo!


O karma é o fio condutor da soma de todas essas vidas. Ação e reação, causa e efeito. A linha que reune todos os pedacinhos do patchwork ou pathwork. Do caminho de retalhos.


Até breve Riacho, nesta vida ou não, eu hei de voltar!






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